PASSOS LARGOS RUMO À REPACTUAÇÃO SOCIAL

O episódio envolvendo dois policiais, que dispararam contra criminosos após intenso confronto, quando caídos ao lado de fuzis e pistolas, passa a integrar o cenário em que se debruça a rotina nas ruas do Rio de Janeiro. 

O último caso é oriundo de mais um vídeo gravado por algum morador das imediações de uma favela que, pelo recorte das imagens, simpatiza com o tráfico, e, como de costume, viralizou nas redes e provocou comentários de toda sorte, com destaque para os policiólogos de plantão.

A imprensa dá a notícia, como sempre, sem a devida apuração e reproduzindo o mesmo vídeo sem contexto. E com um simbolismo atroz, chama de “pessoas” ou “homens”, sequer suspeitos, os elementos caídos ao lado de seus “instrumentos de trabalho”, fuzis e pistolas, sendo alvejados pelos agentes da lei e da ordem. 

A cena tem se repetido com frequência cada vez maior. Dessa forma, policiais passam a pagar com suas vidas ou, “com sorte”, com sua liberdade (e sem ela morrem socialmente), a conta de todo o processo de desintegração da estrutura estatal. 

Agentes de polícia, infelizmente, têm se tornado apenas guerreiros, combatentes forjados nas batalhas, nas Pedreiras, nos Chapadões, nos Alemães, nas Marés, e, por isso, animados apenas pelo combate. Esses servidores públicos têm experimentado, juntamente com seus familiares, toda a insanidade advinda da guerra. 

Há regras até mesmo em uma guerra, disseram alguns, e isso é fato. Mas as regras em uma guerra são válidas para ambos os lados em um combate. E não é o que se observa. Policiais e seus familiares têm sido caçados e alvejados em casa, na rua, quando não estão nas frentes de batalha, e ficam mais vulneráveis. 

Além disso, em situações de guerra, determinadas regras do direito penal e processual penal são excepcionadas. Não estamos a tratar com criminosos, mas com inimigos da sociedade e do modo de vida que conhecemos! Portanto, não é admissível que se utilize esses argumentos garantistas de forma assimétrica. 

Os “exércitos inimigos” foram forjados na corrupção, na omissão, e têm suas fileiras engrossadas pelas crianças sem escola, pelos pais invisíveis, pela inversão de valores, pelos péssimos exemplos! Há um anacronismo latente, que enfraquece as instituições e torna-se nervo exposto na sociedade. E esta, alienada e hipnotizada pela mídia, caminha alegremente em direção ao precipício!

A cena fluminense assume contornos dramáticos. O Estado patina nas atividades que lhes dá sentido e legitimidade. Soma-se a esse caos, uma imprensa que regurgita sua eterna mágoa dos tempos de censura, confundindo a polícia cidadã de hoje com a guarda pretoriana de outros tempos. 

Desse caldo resulta a fratura da credibilidade da atuação policial. E o que se vê é o último bastião a separar civilização e barbárie sendo rompido. Mostra-se inevitável e premente a repactuação com a sociedade.
Autor: André Azevedo é Policial Rodoviário Federal e Pós graduado em Direito Administrativo, Direito Tributário, Direito Constitucional e Gestão Pública pela Universidade Gama Filho. Especialista em Logística e Mobilização Nacional pela Escola Superior de Guerra (ESG). 

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