CARTA ABERTA AOS POLICIAIS DO BRASIL

Para que o mal triunfe, basta que os bons não façam nada.” 
                                                                                                                                      Edmund Burk                                                                                                   police-scene

Há apenas uma coisa mais absurda do que um helicóptero ser derrubado por criminosos ou policiais serem assassinados às centenas por bandidos: não haver uma reação completa e organizada a esse mal.

E quando se fala em reação não se trata tão somente à reação bélica imediata à agressão( coisa já é feita na maioria dos casos). Os atuais ataques à policiais perpetrados por criminosos comuns ou pelo crime organizado são apenas um sintoma, não a doença. A cultura de subversão de valores que glamorizou o crime, promoveu a impunidade e criminalizou a atividade policial é a grande responsável pelo atual estado de coisas. Ela não apenas incutiu na mentalidade do marginal que ele é um injustiçado social( dando-lhe quase o “direito a delinquir”), como também promoveu a demonização do policial e o desmonte jurídico e político de sua atividade.

Quando uma categoria profissional é atacada a reação é imediata. Quando a PEC 37 ameaçou tirar o poder de investigação do Ministério Público em 2013 os membros do parquet estadual e federal reagiram de forma uníssona. Suas associações foram à imprensa e se manifestaram publicamente CONTRA tal medida. Quando se cogitou o chamado “crime de hermenêutica” na projeto de lei sobre abuso de autoridade(PLS 280/2016) todas as associações de magistrados reagiram. Houve abaixo-assinados, manifestações na mídia e no espaço político. A mesma coisa acontece quanto se ataca interesses de médicos, engenheiros, advogados e etc.

Quando se ataca a polícia nada disso é visto. Observamos inertes enquanto ONGs e políticos alinhados aos “injustiçados sociais” atacaram o Auto de Resistência. Ficamos mudos quando veio a “Audiência de Custódia” com a “boa intenção” de agilizar o processo penal, e hoje já está suficientemente clara a sua real intenção: ser promotora da famigerada política de desencarceramento que deixa livres bandidos perigosos que continuam livres e soltos pra assaltar e matar( como o caso do assaltante que matou o Policial Rodoviário Federal ontem à noite em Fortaleza. Ele já respondia por pelo menos dois homicídios e dois assaltos à mão armada). Considerável parte da mídia tem uma clara pauta antipolicial e aparenta atuar na prática como relações públicas de bandidos, sempre se apressando a condenar qualquer ação policial e usar toda a sorte de eufemismos para proteger bandidos.

Perdidos entre demandas meramente classistas, disputas institucionais de poder e divisões internas os policiais brasileiros são presas fáceis do politicamente correto por serem incapazes de se unir. Parece que estão eternamente condenados a expiar os pecados do Regime Militar e por isso simplesmente não reagem à injusta e sistemática campanha de desmoralização pública. Retratados como heróis nas séries televisivas dos anos 80 hoje são demonizados como corruptos e psicopatas em praticamente todas as produções culturais. A promoção da chamada policiofobia foi a responsável por fazer a sociedade não demonstrar nenhuma empatia em relação ao assassinato de seus protetores como acontece em qualquer país civilizado, onde a população sai as ruas para protestar e as autoridades lamentam publicamente o fato. O Brasil é o país onde o policial parece ser um ente alienígena, que não pertence nem ao estado, nem à sociedade.

Mas como cobrar solidariedade e defesa da sociedade se nos negamos a combater culturalmente nossos detratores? Nada acontece no âmbito social se não for precedido no âmbito cultural. Enquanto a cultura antipolicial avançou, sem resistência, nas casas legislativas e judiciárias, redações de jornais e universidades( a ponto de uma estudante PM ser expulsa da sala de aula por sua farda “agredir” os presentes) nos últimos anos nada foi feito de forma organizada para contrapor esse mal.

Ou os policiais de todas as forças se unem, deixando todas as diferenças de lado, e lutam juntos contra esse caos – não só com armas de fogo mas também com canetas, microfones e passeatas – e trazem a sociedade a reboque ou tudo estará perdido. É preciso que se preparem pessoas que sejam multiplicadores da cultura policial em todos âmbitos. Policiais precisam ocupar papel de protagonistas no âmbito da segurança pública publicando livros, escrevendo artigos, participando maciçamente das discussões legislativas fazendo do contraponto cultural uma verdadeira guerra de chão: ocupado culturalmente casa por casa, quarteirão por quarteirão para recuperar o terreno perdido.

Se continuarmos achando que o crime só se combate com o bico do fuzil, seremos aniquilados. Somos um milhão de operadores de segurança pública. Temos uma força enorme e somos naturalmente formadores de opinião. Chegou a hora de exigir respeito não só boicotando os veículos de (des)informação, entidades e pessoas que atuam na prática como relações públicas de bandidos como também restaurando o bom senso através da participação ativa da guerra cultural por corações e mentes, eliminando, de uma vez por todas, o espiral do silêncio que nos encurralou.

Filipe Bezerra é Policial Rodoviário Federal, bacharel em Direito pela UFRN, pós-graduado em Ciências Penais pela Uniderp e bacharelando em Administração Pública pela UFRN.

15 comentários sobre “CARTA ABERTA AOS POLICIAIS DO BRASIL

  1. Impecável. Precisamos reagir culturalmente. Meia dúzia de idiotas massa de manobra de políticos o seguem ser ouvidos e atrair a mídia com os propósitos mais estapafúrdios. Por que nós não conseguimos promover essa revolução cultural? Simplesmente porque não começamos.
    Tratam o problema da segurança pública como um problema de policia. Por quê? Culpa da polícia mesmo. Que não informa a cada crime que vem ser noticiado pela imprensa a ficha criminal do assassino de mais um pai de família. Informa quantas vezes foi preso. Quanto tempo ficou preso. Por qual indulto saiu e assinado por qual juiz.
    Se em todas as ocorrências isso fosse feito, TODAS, em todas as corporações, como um padrão, a sociedade iria ver em muito pouco tempo qual é o problema da segurança pública.
    Está em nossas mãos.

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  2. Belo artigo! Temos que xomecar a combater essa cultura antipolicial. Temos que mostrar nosso papel e importância. Não há sociedade sem polícia.

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  3. concordo em genero , numero e grau, equanto houver esta criminalização da policia promovida por setores da sociedade embasados em discursos de que o delinquente é uma vitima da sociedade e o policial nada pode fazer, nossos bravos guerreiros continuaram a serem aniquilados aos mihares,, não sou de maneira nenhuma a favor da politica de ( bandido bom é bandido morto) acho que isto nos remeteria aos tempos de barbarie e nada resolveria , sou sim a favor da valorização do policial em todas as esferas e do aparelhamento adequado para que nossa policia possa combater de igual para igual a criminalidade como um todo .

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  4. Terrível o que está ocorrendo. Ao meu ver infelizmente existem algumas batatas podres entre os que tem vontade de mudança. Então temos que mudar essa situação planejando uma conscientização partindo do nosso grupo . Recuperando a confiança da população na polícia a partir da atitude de sermos espelho e não permitir em hipótese alguma que se cometa qualquer arbitrariedade que nos denigre frio recuperar a confiança e ao mesmo tempo partir pra guerra com planejamentos. Formar um grupo que seja através do wat zap com todas as polícias e tratalhar em cima de idéias e sugestões e nos fortalecermos. Parabéns ao amigo pela atitude de escrever esse texto.

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  5. Eu acho que o Brasil, Me refiro ao bom brasileiro, chegou no fundo do poço. Estamos destroçados, abandonados.
    A culpa total está em Brasília.
    Na minha opinião está chegando a hora do brasileiro, forçosamente, aplicar a lei de talião – dente por dente, olho por olho.
    Não existe uma só justificativa para esse estado de coisas.
    A boa polícia deveria partir para fazer uma limpeza nos seus quadros, lá dentro existe um bom número de assassinos e bandidos, depois partir para uma auto-avaliação e tomada de posição, aquela posição que os bons brasileiros tanto aguardam.
    Os três poderes estão podres, estão saqueando o Brasil de forma descarada e nós pagando pra ver.
    Eu tenho muita pena dos meus filhos e netos porque o bem que transmiti a eles jamais poderá ser posto em prática.
    Eu tive a sorte de nascer e viver numa época em que o bem sempre se sobrepôs ao mal. O respeito era mútuo e o bom viver era partilhado meio a meio.
    Que páginas tristes nossos governantes estão escrevendo no livro que pertence a nós e não a eles.
    Meu Deus!!! Será que esses governantes ao saírem de sena não terão pesadelos pelo o que fizeram, pelo resto da vida?
    O modo como estão educando com estes exemplos seus próprios filhos e sucessores não lhes dói???

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    1. Fica difícil quando pessoas pensam que a Polícia tem a necessidade de limpar o seu interior. Isso nunca acontecerá, haja, vista, nunca existiu nem existirá em qualquer grupo 100% honestos. Vemos na bíblia que o próprio Cristo escolheu 12 e um era maçã podre. Conheço a Polícia e sei que 99% são homens bons! Seja, MILITAR, PRF, PF, CIVIL ETC São pais de familia. Esta auto avaliação deve ser feita pela sociedade, não pelas organizações Poliiciais. Quando se refere a um bom numero de Policiais assassinos, corruptos mostra que não conhece a Policia que tem. O que falta é a sociedade ser menos corrpta. Vimos a semana passada quando foi feito um teste, onde se deixava uma pequena mesa com relógios e as pessoas pegavam e colocavam o dinheiro em um pequeno recipiente. Bem, nos EUA os que pegaram, pagaram. No Brasil apenas um pegou e pagou. Um outro, até o recipiente levou. Tá brincando! Sejamos mais formadores de opinião! Não críticos com idéias formadas !

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  6. Nossa, amei o texto. Sou militar e tenho me assutado com tantas coisas ruins acontecendo embaixo do nosso nariz. Perdi dois colegas de farda em uma semana, lamentável, mas ninguém faz nada! Gostei do texto e concordo que temos que nos unir e também tomar lugares em discussão para que a segurança pública seja respeitada.

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  7. Excelente publicação. No entanto, adianto que, enquanto não nos unirmos e atentarmos para o fato de que, somente com representação política nossa voz ecoará, estaremos fadados a críticas e menosprezo. Representação Política já, esse é o caminho.

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  8. Perfeito Felipe, ansiamos por pessoas que nos motive a buscar o respeito social perdido. Não é um tarefa fácil, pois, a mídia está à serviço do desserviço em relação à atividade e valores policiais. O que nos resta fazer se o 4º poder está imbuído em defenestrar a polícia? Essa união que pregamos nos comentários alhures, sabemos distante. Ainda falta jorrar muito sangue para que nós, policiais, nos tratemos e ajamos como “irmãos”. É importante que isso seja massificado: “SOMOS IRMÃOS”. Este é o primeiro e mais decisivos passo para que possamos, “juntos”, combater nosso maior inimigo. Havemos de achar um meio de união e de reunião para organizar e intensificar ações para nossa proteção e respeito.
    A propósito, DEUS NÃO ESTÁ MORTO, Ele certamente vive!

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